quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Relação da Turquia com os Países da Primavera Árabe

Ninguém imaginaria que o desesperado ato de atear fogo ao próprio corpo de um desempregado tunisiano como protesto contra as condições de vida de seu pais seria o estopim para um dos maiores movimentos desencadeados nos últimos anos, a Primavera Árabe. Este movimento, conhecido pelos protestos e manifestações dos países do oriente médio e norte da África, tem como objetivo questionar os regimes autoritários e centralizadores de seus respectivos países.

A Turquia tem uma história com os países da primavera árabe não somente por compartilharem a mesma religião, o Islã, mas também por terem já defendido uma mesma bandeira no passado, o império turco-otomano, que existiu entre 1299 e 1923. Império cuja queda final foi a perda da primeira guerra mundial. Com o fim da nação, os turcos se reorganizaram através da liderança de Mustafa Kemal Ataturk e formaram a República da Turquia. Entre os principais legados deixados por Ataturk podemos citar a instalação da democracia, o direito ao voto por parte das mulheres, a criação de um alfabeto turco baseado na grafia latina, a secularização e a política externa.

Os líderes da Turquia almejam que seu país sirva de inspiração aos países da primavera árabe e estão abertos a partilharem experiências em matéria de democratização, secularização, desenvolvimento institucional e de liberação econômica. Como prova disto, o presidente da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, visitou em setembro de 2011 a Tunísia, o Egito e a Líbia.

Apesar da aproximação com estes países, a Turquia possui desavenças com alguns outros países que passam pela Primavera Árabe, como o Irã e a Síria. As relações entre Turquia e Síria pioraram consideravelmente após o incidente com o abatimento do caça turco em território sírio, as acusações turcas sobre o governo sírio de que eles estariam dando suporte ao PKK, organização listada como terrorista no cenário internacional e de declarações de apoio da Turquia ao fim do conflito sírio através da deposição do atual presidente Bashar al-Assad.

Já as relações com o Irã poderiam estar melhores, apesar da Turquia ter auxiliado o Irã na busca de um consenso com países do G5 sobre seu programa nuclear para fins pacíficos, o Irã se ressente da decisão turca de aderir à pressão dos Estados Unidos e hospedar uma estação de radar como parte de um sistema de defesa antimísseis da Otan.

Pelo modo como a Turquia tem conduzido sua política externa, pode-se dizer que ela tem seguido fielmente os preceitos de seu fundador, Ataturk, cujo ponto de vista era de que a política externa deveria estar em concordância com a organização interna demonstrada em sua frase que se tornou lema no país “Paz em Casa, Paz no Mundo”. Após o alerta dado aos antigos governos a realizarem reformas buscando consentir com reinvidicações do povo, a Turquia tem apoiado os movimentos de libertação deflagrados nos diversos países vizinhos. Independentemente da queda do governo destes países, quando a situação se estabilizar a Turquia definitivamente irá possuir uma influência gigantesca na região digna de como são denominados, pois “turk” na língua deles significa “forte”.


Um comentário:

  1. Ótimo comentário, digno de um artigo de jornal e mostrando uma face pouco conhecida pra nós leigos brasileiros. Gostei bastante, tenho que admitir. Apesar da Turquia ser considerada quase um capacho no ponto de vista dos países europeus (já que o ego deles faz com que achem que qualquer coisa q passou que saiu do território deles seja considerado insignificante) seu texto mostra uma Turquia que tenta conquistar espaço no cenário internacional, o que realmente é pouco divulgado.

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