terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Senhora do Tempo

Escrevi esse texto em 11/09. Resolvi compartilhar.

Hedrik era um jovem muito alegre e simpático a todos. Tinha 20 anos e morava em um pequeno vilarejo ao Sul das Montanhas do Sono Profundo, era muito prestativo e adorado por todos. O cotidiano deste vilarejo era como qualquer outro, as pessoas pescavam, plantavam e cuidavam de animais para seu sustento.

As pessoas evitavam entrar no vale, pois lendas diziam que quem adentrasse envelheceria a tão ponto de nunca mais ser capaz de voltar... Na noite de seu aniversário de 20 anos, teve uma grande festa, todos as pessoas do vilarejo beberam e comemoraram. Hedrik tinha um cachorro chamado Felix, ele sempre sumia pro meio do mato e trazia consigo alguns animais mortos mas nessa noite ele estava demorando bem mais do que o normal... Hedrik então saiu a procura dele segurando uma lanterna em uma mão e uma garrafa de rum na outra. A medida que ele se afastava da festa, não tardou para que ele passasse a ouvir alguns latidos e ganidos que o guiavam naquela escuridão. Minutos, horas... Hedrik não lembra o quanto andou mas quando finalmente encontrou seu cão, ele estava com uma pata presa entre pedras e escombros. Provavelmente ele tinha tentado caçar um tatu ou algum outro animal e ficado com a pata presa ali... bicho burro, havia pensado.

No breve instante em que ele conseguiu liberar seu cão, um gelo indescritível percorreu suas espinhas, ele percebeu que estava na entrada da Montanha do Sono Profundo e havia uma suntuosa figura parada a uns 5 metros dele.

Era uma senhora em torno dos 30 anos, no auge de sua beleza, altiva e irradiante.
Hedrik em um misto de espanto, medo e admiração simplesmente ficou paralisado, como se fosse normal encontrar alguém ali e apenas perguntou:
- Quem é a senhora?
- A Senhora dos Tempos, é como me chamam. Eu consigo acelerar o tempo e até pará-lo se assim desejar, mas isto de nada me é útil. Por qual razão possuo este poder? Há muitos séculos faço esta pergunta e até agora não encontrei uma resposta. E também não posso perguntar a ninguém pois, todas as pessoas das quais me aproximo morrem.

Apenas ouvia-se o som dos ventos entre as árvores quando ela voltou a dizer:

- Jovem, você é o primeiro a não envelhecer diante de minha presença, quem é você?
- Hedrik Reis senhora, filho de Joaquim Reis, aprendiz de carpinteiro do vilarejo de Talaside.

- Como conseguiu seu poder?
- Poder? Que poder? Eu tenho um poder?
- Você é o primeiro ser que encontro o qual não é afetado pelo meu poder. Logo você possui algum poder.

Refletindo nas palavras da linda mulher que estava diante dele, ele não pode sequer imaginar que ela era apenas uma maluca tão bonita ela era... mas quem ela era afinal?
A senhora enfim quebrou o silêncio mais uma vez:

- Tenho uma pergunta a lhe fazer.
- Farei todo o possível para respondê-la se estiver ao meu alcance senhora.
- Qual o propósito do tempo?
O menino, muito perplexo com a pergunta, não pode entendê-la, o que aquela senhora estava dizendo? O tempo? Pra que alguém faria uma pergunta destas?

Ao notar que o garoto não sabia nem qual era seu poder, muito menos a resposta para a pergunta, ela suspirou e disse:

- Por não saber a resposta, acredito que a forma mais rápida para que você me ajude a descobrir a resposta seja trazendo dor e sofrimento a você.
E começou a caminhar em sua direção. O menino sentiu-se petrificado mais uma vez, tanto pela beleza da mulher quanto pela aura que emanava dela. suas pernas bambeavam e era impossível mexê-las. Não raciocinava direito, se perguntava o que havia feito para morrer daquela forma e apenas se encolheu até a senhora tocar com um simples dedo em sua testa.
Vendo que ainda estava vivo perguntou:

- O que você fez comigo?
- Apenas compartilhei parte de minha maldição com você. Não serão todas, e sim as pessoas pelas quais você se importa que irão sofrer da minha maldição.
- Quando você encontrar a resposta para a minha pergunta, eu saberei e virei ao seu encontro.

Tão cedo lhe disse isso, ela virou suas costas e voltou para o fundo do vale. Hedrik então pensando ainda estar sob efeito do álcool voltou para seu vilarejo, indagando e imaginando se tudo aquilo não fora uma incrível ilusão.
Quando chegou ao vilarejo, este já estava em pleno silêncio, havia alguns bêbados caídos e abraçados em garrafas ao longo do caminho e ouvia-se somente o piar das corujas. Então Hedrik decidiu dormir.

No dia seguinte, Hedrik acordou com o sol já bem alto. Provavelmente meio-dia ou mais tarde pensou. Berrou para seus pais se o almoço estava pronto mas não ouvindo uma resposta, subiu ao quarto deles.
- PAIII!! MÃEEE!!!
Eles estavam bem mais velhos e com uma aparência de pessoas de 80 anos. As lembranças da noite passada subitamente lhe vieram a mente. Quando a mãe abriu os olhos ele disse:

- Mãe! Não diga nada! Irei procurar um médico que vai curar a sua doença! Você vai ficar bem!
- Filho... nós sempre te amamos, não se esqueça disso... cuide-se.
E voltou a fechar os olhos.

- MÃEEEEEEE!!!
Hedrik ficou ali chorando em cima dos corpos de seus pais que envelheciam rapidamente a cada minuto... até que um pavor ainda maior tomou conta dele ao relembrar as palavras da Senhora do Tempo:
- "Não serão todas, e sim as pessoas pelas quais você se importa que irão sofrer da minha maldição"

Hedrik saiu correndo para fora de sua casa e assim que pisou para fora de casa, viu seus amigos e pessoas do vilarejo todas velhas e cansadas, não tão velhas como seus pais porém definitivamente mais velhas com exceção de algumas pessoas que Hedrik não ia com a cara delas e foram justamente elas que vieram esbravejando contra ele:

-Hedrik!! Por onde você andou ontem a noite?!? Você trouxe a maldição do Vale do Sono Profundo pro nosso vilarejo!!! Vamos matá-lo enquanto ainda nos resta tempo!!
- Simm!! Não quero morrer! Disse outro.

Em desespero, Hedrik não viu outra alternativa a não ser fugir. Correu o máximo que pode, até encontrar um cavalo e dali perder de vista. Nunca mais ele foi visto por aqueles que o conheciam.